16/09/2007

Imitação da felicidade

«Gostava intensamente de viver», diz Urbano Tavares Rodrigues, numa entrevista em que, tranquilo e pacificado, assume que tem «um tempo de vida muito limitado». 83 anos de idade, casado com uma mulher 40 anos mais nova do que ele, um bébé de poucos meses, vê agora serem publicadas as suas «Obras Completas», em dez volumes. Tem um livro ainda em preparação.
Tenho ali o primeiro volume, não sei quando o conseguirei ler. Prefacia-o Eugénio Lisboa, que da sua escrita lhe sublinha a clareza. Seguramente na vida, seguramente ante o acto de morrer, sem mistério: «tenho uma grande problema de coração. Não tenho já a aurícula esquerda porque está morta. Vivo de circulação artificial. O bombear do sangue faz-se pela aurícula direita e eu muito fácilmente entro em taquicardia (...) Não sei quando será, mas no meu caso é para breve». Falava da morte, assim, serenamente. Um dos seus livros chama-se «Imitação da Felicidade».

15/09/2007

Recia batalla


No prefácio que escreveu às «Cartas» de Manuel Laranjeira, editadas pela Portugália em 1942, sob a coordenação de Ramiro Mourão, Miguel de Unamuno deixou este testemunho impressionante que redigira em 1913: «Le mató la vida. Y al matarse, dió vida a la muerte».

Neste modo dizer está resumida uma biografia, daquele em cujo amarfanhado corpo, e tal como no de Antero de Quental, «la cabeza y el corazón riñeron recia batalla».

02/09/2007

O Nada e o Ser

Anda um halo de morte pela imprensa portuguesa. Hoje dei conta de que no «Actual» e a propósito da literatura se destacam as mortes do Eduardo Prado Coelho, do Alberto de Lacerda, do Richard Cook, do Francisco Umbral. Nas suas memórias o Hermano Saraiva dava-nos conta de como aprendeu a amar a morte, vindo de ambulância, do Hospital de Setúbal.
No «Jornal de Letras» Eduardo Lourenço é chamado à primeira página com um seu estudo de duas páginas sobre «A Morte». Nele, convocando Unamuno e Schopenhauer, Lourenço tenta mostrar que a reflexão sobre a morte começou só com este último ícone do pessimismo alemão.
Felizmente não! O Homem começou a pensar na morte no dia em que descobriu a vida. Iludiu-se pensando que só esta era provisória. Hoje vive a expectativa do retorno.
Parménides de Eléia, que viveu há quinhentos antes de Cristo, um dia sabia que «o que está fora do Ser não é Ser; o Não-Ser é nada; o Ser, portanto, é Um».