tag:blogger.com,1999:blog-90584840297322279852024-02-19T10:05:52.540+00:00A Reciclagem do SerA morte esse tempo provisório, a vida o lugar constanteJosé António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comBlogger22125tag:blogger.com,1999:blog-9058484029732227985.post-40793146232071844672015-03-01T21:03:00.004+00:002015-03-01T21:03:57.355+00:00O corpo e alma<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvcB0P6HzlSFoIXwRPJCS-zmF9vUOY9yMN_C4zDD-apmQFYDUcR5mCl9Xwjl2ZfPrlifFpTrd9D-3BdLccnBExqO7PNV_WbkKAhlw989230Zg0W6BPDJgxAlnFZdM4TTWx0Ux1n-3taziX/s1600/Jos%C3%A9+R%C3%A9gio-2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvcB0P6HzlSFoIXwRPJCS-zmF9vUOY9yMN_C4zDD-apmQFYDUcR5mCl9Xwjl2ZfPrlifFpTrd9D-3BdLccnBExqO7PNV_WbkKAhlw989230Zg0W6BPDJgxAlnFZdM4TTWx0Ux1n-3taziX/s1600/Jos%C3%A9+R%C3%A9gio-2.jpg" height="400" width="278" /></a></div>
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É, na sua formulação literária, a melhor expressão da dualidade corpo/alma, a precariedade daquele. Leio-a no comovido texto de Álvaro Ribeiro sobre a morte de "José Régio", escrito a 14 de Maio de 1970: «Exactamente porque o seu corpo já era velho, débil e frágil, estava em perigo de ser separado da sua alma, forte, nobre e superior».</div>
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Só os que confundem alma e espírito não alcançam a dimensão do que a frase contém, a sua avassaladora pujança, a superior dignidade que a anima.</div>
JABhttp://www.blogger.com/profile/06195512146125478286noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9058484029732227985.post-70208600887070481362014-11-15T12:58:00.000+00:002020-03-24T21:12:34.789+00:00O tempo por haver<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoOe2a5vNYRcVM079FvVSPdWHtEYvVStHTEeFEYKw_rfyEXEPJs8E_JKyGqM3mUF5fE6PfWR1Wcw6xtbuXqFQ3YiAWl1h3hPjJsbzttQbiRQ4cGmQLijG-emBKxIApHNJin6A9scC02UH7/s1600/Old_Clock_02_by_Dakann.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="251" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoOe2a5vNYRcVM079FvVSPdWHtEYvVStHTEeFEYKw_rfyEXEPJs8E_JKyGqM3mUF5fE6PfWR1Wcw6xtbuXqFQ3YiAWl1h3hPjJsbzttQbiRQ4cGmQLijG-emBKxIApHNJin6A9scC02UH7/s1600/Old_Clock_02_by_Dakann.jpg" width="320" /></a></div>
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Li, a caligrafia incerta, num apontamento de um caderno de notas que será um livro, agora em esboço ainda de preparação para ser editado. Imagino que quem escreveu tivesse chegado àquele momento da vida anterior ao que me encontro hoje. E digo imagino porque suponho que a brisa de angústia que perpassa por quem, como eu, chegou aos 65 anos tem de ser mais violenta do que a que fica na frase que recolhi na memória; ao mesmo tempo tudo farei para que seja mais mobilizadora, me restitua ânimo e faça descobrir modo para a viagem que resta: «chega-se a uma idade em que cada dia a mais é um dia a menos», eis a frase.</div>
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Há um tempo em que, eu sei, dos ponteiros do relógio já só restam os segundos, em que tudo é mais rápido, incluindo a vontade de viver, o martelar cardíaco do tempo por haver.</div>
JABhttp://www.blogger.com/profile/06195512146125478286noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9058484029732227985.post-51514845621801776282014-03-15T17:12:00.001+00:002016-08-13T22:11:20.602+01:00A fragilidade da distância<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvKPakLZpPIs2ko1f6oEViAxGy9p8wy6MeT6AdbXw_kmdbkHP-y18YvzaeQuqqlG1w_K1vRr1KwCLbDy2G1mrc_vOgEGV_MKtF7dQnwvLIZPOGVJuuzmgDbcRxCug5uKzRLCIBccXv5LsQ/s1600/Hannah_Arendts_Grave.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvKPakLZpPIs2ko1f6oEViAxGy9p8wy6MeT6AdbXw_kmdbkHP-y18YvzaeQuqqlG1w_K1vRr1KwCLbDy2G1mrc_vOgEGV_MKtF7dQnwvLIZPOGVJuuzmgDbcRxCug5uKzRLCIBccXv5LsQ/s1600/Hannah_Arendts_Grave.JPG" width="320" /></a></div>
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Num comovido texto que leio este Sábado enfim de Sol no suplemento cultural <i>Babelia</i> do jornal espanhol <i>El Pais</i>, Antonio Muñoz Molina a propósito da lápide funerária de Hannah Arend (Blucher), que há anos encontrou num pequeno cemitério a duas horas de comboio de Nova York, pertencente ao <i>Bard College</i>, escreve um texto magnífico, que é, no aparente imediato, sobre as oficiais trasladações dos despojos daqueles que a morte veio a ilustrar, a conveniente reparação da injustiça histórica, mas é, na sua essência sentimental - e quem o escreve confessa-se sob a «fragilidade sentimental do que viaja sozinho - um poema sobre quanto o longe morrer do local onde se nasceu é «um monumento mais expressivo do que qualquer inscrição».</div>
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Fonte da imagem: <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/File:Hannah_Arendts_Grave.JPG">aqui</a></div>
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Sobre Antonio Muñoz Molina veja-se a sua página, <a href="http://xn--antoniomuozmolina-nxb.es/">aqui</a>.</div>
JABhttp://www.blogger.com/profile/06195512146125478286noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9058484029732227985.post-60161210534529917952013-08-19T21:32:00.001+01:002013-08-19T21:53:32.771+01:00Forcadas<p>Necrópole em Forcadas. Datam do medievo. O povo julga-as muçulmanas. O não estarem todas orientadas a Nascente inculca origem não cristã. São de pequena dimensão. Para corpos pequenos. Em pedra. Para a eternidade.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUtjuXtvIHOFfGSt0amIER47rOdlW_RFPFMpjt6UByFOvP6fbqPdm-9mgbFRBbELlCNsc6zpkEdhyE21KMwCQXMeJ7hd4sPLPSBJwAA8RthTywhI44FmFp45hfiGg_-u4ffkTxbjvk2xxf/s1600/20130818_100426.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"> <img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUtjuXtvIHOFfGSt0amIER47rOdlW_RFPFMpjt6UByFOvP6fbqPdm-9mgbFRBbELlCNsc6zpkEdhyE21KMwCQXMeJ7hd4sPLPSBJwAA8RthTywhI44FmFp45hfiGg_-u4ffkTxbjvk2xxf/s400/20130818_100426.jpg"> </a> </div>JABhttp://www.blogger.com/profile/06195512146125478286noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9058484029732227985.post-40985913600345187622011-08-15T11:44:00.000+01:002011-08-15T11:44:08.766+01:00A Assunção de Maria e a indignação de Deus<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSbeLIuNYKH633_PZXVu77L2uCcoBEmR91PQNUtuApw8eesrPwse_qmvqf2-IbYvcj0Vx47thYvGZAELxiItQhRDuNA941jFQDl5tK-2q6KqZI2MHddE4cshfL3Rj2cwOIz-5DnYE5Obvx/s1600/Imaculada.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSbeLIuNYKH633_PZXVu77L2uCcoBEmR91PQNUtuApw8eesrPwse_qmvqf2-IbYvcj0Vx47thYvGZAELxiItQhRDuNA941jFQDl5tK-2q6KqZI2MHddE4cshfL3Rj2cwOIz-5DnYE5Obvx/s400/Imaculada.jpg" width="272" /></a></div><div style="text-align: justify;">Creio que do ponto de vista teológico a ideia da morte de Maria, mãe de Jesus, não encontra obstáculo. Há a ausência do facto histórico da sua morte, ou a inexistência de evidência que a comprove. Daí que a Igreja Católica festeje a Assunção de Nossa Senhora aos Céus, em corpo e alma, mas trasmute a sua morte numa dormência, deixando em aberto o saber se a sua subida aos Céus se deu ainda em vida ou depois disso. </div><div style="text-align: justify;">De entre os dogmas inerentes ao culto mariano - a Perpétua Virgindade, a sua Imaculada Conceição, o ser Mãe de Deus - a Assunção de Maria foi entronizado em 1950 pelo Papa Pio XII, por decreto, o mesmo da Infalibilidade Papal. Segundo o seu texto:<i> </i></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">« (...) declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que:<span class="Apple-converted-space"> </span>a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial (...) pelo que, se alguém, o que Deus não permita, ousar, voluntariamente, negar ou pôr em dúvida esta nossa definição, saiba que naufraga na fé divina e católica.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Princípio autoritário foi imposto <i>sub poena</i>: «a ninguém, pois, seja lícito infringir esta nossa declaração, proclamação e definição, ou temerariamente opor-se-lhe e contrariá-la. Se alguém presumir intentá-lo, saiba que incorre na indignação de Deus onipotente e dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo».</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/04958970604904404916noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9058484029732227985.post-4331980133693427952010-12-14T01:09:00.001+00:002015-03-01T21:07:36.320+00:00O florir da vida<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKz8e0vcm0i1hsX5C6qgvaNaoYdpjCtLl3ZwrHTTlANkvq_Cl_NCVgb4IXLAp8qe7H2gF8P5L-Lbhc3dTHiyi7VmgY8GKLbwdqykBGxBMg9RoDsll2r5j3vV8M7odWts4PeF_3i2imy2Re/s1600/begonias.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKz8e0vcm0i1hsX5C6qgvaNaoYdpjCtLl3ZwrHTTlANkvq_Cl_NCVgb4IXLAp8qe7H2gF8P5L-Lbhc3dTHiyi7VmgY8GKLbwdqykBGxBMg9RoDsll2r5j3vV8M7odWts4PeF_3i2imy2Re/s1600/begonias.jpg" height="300" width="400" /></a></div>
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<span style="text-align: justify;">Surgido como se de um pesadelo, não é a ideia do fim mas do findar-se, o degradante exercício de como encontrar dignidade da indignificação que nos persegue, vindas das catacumbas das ruas, pelos jardins, nos confins dos nossos lares, no mais fundo dos nossos remorsos. Só o amor nascido nas cavernas do horror consegue dar ânimo e força para que não os rejeitemos, rejeitando-nos, enforcando-nos pela cobardia de desejarmos a beleza eterna, mesmo patética. A haver decência acabava tudo antes, no tempo em que a vida nos floria.</span>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/04958970604904404916noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9058484029732227985.post-13621094370861834892009-02-04T17:22:00.001+00:002009-02-04T17:26:48.107+00:00A incapacidade<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjB_oURTbQXW4VZ5PqzRTWzblqAy3vte2vhogGfGuFCj9foZGY_t3YHXeO4JTiIjle_L2e4BrCP8CQWH9IMICbZDTfOCP7PgSxIi8uG5MnE78D9-X1-GdJVTsd3KVBczgUfwDKdBYnf0In3/s1600-h/insonia.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5298994816893973570" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 200px; CURSOR: hand; HEIGHT: 299px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjB_oURTbQXW4VZ5PqzRTWzblqAy3vte2vhogGfGuFCj9foZGY_t3YHXeO4JTiIjle_L2e4BrCP8CQWH9IMICbZDTfOCP7PgSxIi8uG5MnE78D9-X1-GdJVTsd3KVBczgUfwDKdBYnf0In3/s400/insonia.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify">Pedem-me um prefácio a um livro. Escrevia-o esta manhã: «Como não apartar quem tira a vida alheia daquele que suprime a vida própria, aquele criminoso por haver vítima, este impune porque o crime foi, afinal, a punição, criminoso e carrasco num acto só? Como não aceitar que a incapacidade de viver possa coexistir com a incapacidade de morrer, o não saber já como viver-se ser irmã siamesa do não saber ainda como morrer?». O livro é sobre morrer, a pedido.</div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9058484029732227985.post-15034139116658011562008-08-23T19:08:00.003+01:002008-08-23T19:52:51.091+01:00Leva-me para ao pé de ti<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjw8AUT_C5-tKmF4W9ujqYJfVvI-1Q6pnzIAJk_lbFPS64G32V3Yl-m9L8BYhtezDcNng0HTCQWYTB9nQQpydI3gsMvnINShc7WwHba1rJMmG5i6sOVyg52Hj6cRV4JwWb0Kos5VobkbDnU/s1600-h/por_sol_P_Norte.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237777365652924930" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjw8AUT_C5-tKmF4W9ujqYJfVvI-1Q6pnzIAJk_lbFPS64G32V3Yl-m9L8BYhtezDcNng0HTCQWYTB9nQQpydI3gsMvnINShc7WwHba1rJMmG5i6sOVyg52Hj6cRV4JwWb0Kos5VobkbDnU/s400/por_sol_P_Norte.jpg" border="0" /></a>Olhou, através da densa névoa da dormência, os olhos baços, a cara um mar de rugas, a boca mirrada, desdentada. Confundiu o filho com o marido, já morto. Num murmúrio, numa súplica, pediu-lhe «leva-me lá para cima, para ao pé de ti». Cá fora, um neto olhava-a, pequeno demais para poder estar mais tempo, pouco tempo, cada vez menos tempo.</div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9058484029732227985.post-79619951484724763622008-06-22T09:43:00.004+01:002008-06-22T09:54:14.771+01:00À terceira é de vez<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBtRS1nZ_HPjN5R4tABmUxcyGJ5PxmLc-S1JEzBSZ9Ty5Eutna5DzYT00_srQ-9edTpD6iHFZL77br3WzCA9iHQR4GQPP6aiDTJM7gl_OtLmpkYdAcnKuyri_Yg6BXAFHSr4LVDs8YouNa/s1600-h/colonel.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5214626022481001602" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBtRS1nZ_HPjN5R4tABmUxcyGJ5PxmLc-S1JEzBSZ9Ty5Eutna5DzYT00_srQ-9edTpD6iHFZL77br3WzCA9iHQR4GQPP6aiDTJM7gl_OtLmpkYdAcnKuyri_Yg6BXAFHSr4LVDs8YouNa/s400/colonel.jpg" border="0" /></a>Venho das compras, no <em>super</em> aqui perto. Entrava e cruzo-me com dois velhotes, um alquebrado, a arrastar um carrinho, o outro, meio zaranza, à procura de onde estavam os carrinhos. «<em>Bom dia, senhor coronel. Como vai essa saúde?</em>», disse o que buscava ao que encontrara. «<em>Vou bem, vou bem</em>», retorquiu, ríspido, o saudado, com um ar de displicência militar. «<em>Já é a terceira que me pergunta isso este ano</em>!», rematou, com um ar enfastiado. E estamos em Junho, cogitei eu, que ainda encontro os carrinhos com facilidade, mas a meio já me esqueço a que compras ia. Impertinentes, estes civis! Ninguém escreve ao coronel....</div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9058484029732227985.post-9572144732317761712008-03-18T21:58:00.003+00:002008-03-18T22:09:02.296+00:00Dias silenciosos<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibYfYa_mhF31pPuFwhUOV80-kh0DRp5anI9NbGZf3gZcEulrUL8pGtlPNp5UWaT2kq9_gkB7UiaeQYKQpcbE1ccSAS3D30tU0sgT_a2fCH4gWKWLjXKWAI_-QhpGP6T9KJx6CzavOYypdX/s1600-h/cave.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5179206078109619202" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibYfYa_mhF31pPuFwhUOV80-kh0DRp5anI9NbGZf3gZcEulrUL8pGtlPNp5UWaT2kq9_gkB7UiaeQYKQpcbE1ccSAS3D30tU0sgT_a2fCH4gWKWLjXKWAI_-QhpGP6T9KJx6CzavOYypdX/s400/cave.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify">Esta semana duas mortes conhecidas em que reparei, entre tantos mortos cujo anonimato são a razão da nossa indiferença. Talvez pela idade, ganhei consciência de que, enfim, é o tempo da nossa geração, começar a morrer. A degradação do corpo não perdoa, nem se apieda mesmo das almas grandes que deveriam estar isentas da lei usurária do tempo. Até aqui tenho tido a ilusão de que pela escrita perduramos. Nestes dias silenciosos, é como se já nem acreditasse na possibilidade de ser lido.</div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9058484029732227985.post-33147993947201218692008-02-10T20:39:00.000+00:002008-02-10T20:48:54.034+00:00Perdão<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJCAhJBj96aoj-TLQuEJV28ay69mlcjCdFIY7SJvfzs-9I85p63cLqSJGppgwjwzwNK_w4kPtPndzx_zxVBF6shYjSxBDaIaDigqSbq0Zl_lXBP9roLlJvMhzU3Lkp3LH17QkDpd8U-Zvh/s1600-h/LgrimaseSuspiros-4.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5165454468468708242" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJCAhJBj96aoj-TLQuEJV28ay69mlcjCdFIY7SJvfzs-9I85p63cLqSJGppgwjwzwNK_w4kPtPndzx_zxVBF6shYjSxBDaIaDigqSbq0Zl_lXBP9roLlJvMhzU3Lkp3LH17QkDpd8U-Zvh/s320/LgrimaseSuspiros-4.jpg" border="0" /></a> Há no filme «Lágrimas e Suspiros», de Ingman Bergman, um filme sobre o amor e a morte e a morte do amor, o momento em que, recebida a inesperada bofetada, Anna, a criada, sentindo-a como se lhe esmagassem o coração, recusa o «perdão» que lhe é pedido por quem, irada patroa, a agrediu. Revolve, revoltada a cabeça, como se num <em>não e não</em> de uma altivez dorida. Num mundo em que o «desculpa-me» se banalizou num passar adiante de todas as ofensas e das mais ignóbeis humilhações, é uma lição única de ser-se pessoa, não servil mesmo quando serviçal.<br /><br /></div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9058484029732227985.post-71987240698287284972007-10-27T12:21:00.000+01:002007-10-27T12:35:36.802+01:00Múltiplo, plural e afinal ninguém<img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5125976364255435234" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaWoL_DXowWa20QoRNR_PJjtrrcMyGJ8s52zze5EZuli_SkORM_aoGIxy3hzCTv9n4OJZo0xLR8mTtf2wnMwYKkLmy8iycaWBgk-fjXcm1jsDZ15T_3U0MA7xnluPga_LUkFuSwls1mJ91/s320/Jos%C3%A9+Cardoso+Pires.jpg" border="0" /> A fragmentação do eu, a despersonalização, a perda lenta da memória, o prenúncio da morte branca. «Sem a consciência da identidade que nos posiciona e nos define (...) ninguém pode ser sensível à valia humana do semelhante». Às vezes começa com um tremor nas mãos, depois é ser-se, «a pessoa de coisíssima nenhum», a Valsa Lenta.<br /><div></div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9058484029732227985.post-80387438321129424542007-09-16T01:33:00.000+01:002007-09-16T01:58:45.314+01:00Imitação da felicidade<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPEYJJGRamgp_pzjqxVG7fVsvylZA8Lz3wI03bihWG5MT9nvG-1XqPAdfzYrTPK5izsW7g6d5GtpmBnKPT-3SVzcd9R7zSN5sw-o_M71Gl6hYQ06z05-pkktNsvOUYVZlo_QURCcaldDNy/s1600-h/Urbano+Tavares+Rodrigues.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5110600076377272818" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPEYJJGRamgp_pzjqxVG7fVsvylZA8Lz3wI03bihWG5MT9nvG-1XqPAdfzYrTPK5izsW7g6d5GtpmBnKPT-3SVzcd9R7zSN5sw-o_M71Gl6hYQ06z05-pkktNsvOUYVZlo_QURCcaldDNy/s320/Urbano+Tavares+Rodrigues.jpg" border="0" /></a> «Gostava intensamente de viver», diz Urbano Tavares Rodrigues, numa entrevista em que, tranquilo e pacificado, assume que tem «um tempo de vida muito limitado». 83 anos de idade, casado com uma mulher 40 anos mais nova do que ele, um bébé de poucos meses, vê agora serem publicadas as suas «Obras Completas», em dez volumes. Tem um livro ainda em preparação.<br /><div align="justify">Tenho ali o primeiro volume, não sei quando o conseguirei ler. Prefacia-o Eugénio Lisboa, que da sua escrita lhe sublinha a clareza. Seguramente na vida, seguramente ante o acto de morrer, sem mistério: «tenho uma grande problema de coração. Não tenho já a aurícula esquerda porque está morta. Vivo de circulação artificial. O bombear do sangue faz-se pela aurícula direita e eu muito fácilmente entro em taquicardia (...) Não sei quando será, mas no meu caso é para breve». Falava da morte, assim, serenamente. Um dos seus livros chama-se «Imitação da Felicidade».</div></div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9058484029732227985.post-47272580627694745092007-09-15T21:41:00.000+01:002007-09-16T02:00:30.750+01:00Recia batalla<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmKY5t6go21YcvNfe05kYYQ1T5jeKRnjXbr7p9AjfXtPvcWVGxqKmDXmLS4Ebvfu9j1SPS4g88QJNK6HnU54TR2soFpF8a8wHiZ230vBV1477dTzs-4QGbZDBxt_xKwTH21SZ8LiBEvRX6/s1600-h/Manuel+Laranjeira-1.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5110600544528708098" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmKY5t6go21YcvNfe05kYYQ1T5jeKRnjXbr7p9AjfXtPvcWVGxqKmDXmLS4Ebvfu9j1SPS4g88QJNK6HnU54TR2soFpF8a8wHiZ230vBV1477dTzs-4QGbZDBxt_xKwTH21SZ8LiBEvRX6/s320/Manuel+Laranjeira-1.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify">No prefácio que escreveu às «Cartas» de Manuel Laranjeira, editadas pela Portugália em 1942, sob a coordenação de Ramiro Mourão, Miguel de Unamuno deixou este testemunho impressionante que redigira em 1913: «<em>Le mató la vida. Y al matarse, dió vida a la muerte</em>». </div><br /><div align="justify">Neste modo dizer está resumida uma biografia, daquele em cujo amarfanhado corpo, e tal como no de Antero de Quental, «<em>la cabeza y el corazón riñeron recia batalla</em>». </div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9058484029732227985.post-73965047955541163972007-09-02T00:57:00.000+01:002007-09-02T02:00:18.243+01:00O Nada e o Ser<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdq9JbsqzGYbaNUe123wB1969xysyBgMbMS6r-g0Hkk6DJI5Rcy9ATKm_-nsRTQMStmBSZJdQTkXJ0VefJV4w7wxy-yZ_LlBORaGxPBL6v8CPojWMxFwrGu97kGuJhtGbZpaJWAgeHAwTs/s1600-h/schopenhauer1.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5105389639922260594" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdq9JbsqzGYbaNUe123wB1969xysyBgMbMS6r-g0Hkk6DJI5Rcy9ATKm_-nsRTQMStmBSZJdQTkXJ0VefJV4w7wxy-yZ_LlBORaGxPBL6v8CPojWMxFwrGu97kGuJhtGbZpaJWAgeHAwTs/s320/schopenhauer1.jpg" border="0" /></a> Anda um halo de morte pela imprensa portuguesa. Hoje dei conta de que no «Actual» e a propósito da literatura se destacam as mortes do Eduardo Prado Coelho, do Alberto de Lacerda, do Richard Cook, do Francisco Umbral. Nas suas memórias o Hermano Saraiva dava-nos conta de como aprendeu a amar a morte, vindo de ambulância, do Hospital de Setúbal. </div><div align="justify">No «Jornal de Letras» Eduardo Lourenço é chamado à primeira página com um seu estudo de duas páginas sobre «A Morte». Nele, convocando Unamuno e Schopenhauer, Lourenço tenta mostrar que a reflexão sobre a morte começou só com este último ícone do pessimismo alemão. </div><div align="justify">Felizmente não! O Homem começou a pensar na morte no dia em que descobriu a vida. Iludiu-se pensando que só esta era provisória. Hoje vive a expectativa do retorno.</div><div align="justify">Parménides de Eléia, que viveu há quinhentos antes de Cristo, um dia sabia que «<em>o que está fora do Ser não é Ser; o Não-Ser é nada; o Ser, portanto, é Um</em>». </div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9058484029732227985.post-51919682776964850952007-08-26T10:10:00.000+01:002007-08-26T11:54:15.607+01:00O como e o porquê<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhboChPhZB6iiQ3opoGLWo5HqIrouueRb0M3ammQo9EWopbg0El1llwfX0W3WQeGXmnNWSoCZj0m77NbmjbunWpYzbGjLMoVVlWykcaTm4KEIJfbaUIQ3VTJSMD2DI5fBQKw0DPJfImmKbd/s1600-h/Cancer_cell,%2520brain.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5102938300222970130" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhboChPhZB6iiQ3opoGLWo5HqIrouueRb0M3ammQo9EWopbg0El1llwfX0W3WQeGXmnNWSoCZj0m77NbmjbunWpYzbGjLMoVVlWykcaTm4KEIJfbaUIQ3VTJSMD2DI5fBQKw0DPJfImmKbd/s320/Cancer_cell,%2520brain.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify">Antigamente quando alguém morria com um cancro os jornais diziam que falecera após «doença prolongada». A palavra queimava os lábios, os Homem evitava-a, como se o seu vocativo fosse em si mesmo um perigo, ou como se o morrer-se dela uma vergonha. Hoje leio no «Jornal de Notícias» que Eduardo Prado Coelho morreu «na sequência de um cancro». Leio ainda que «sofria de uma doença que não lhe permitiu prolongar a vida». O ser humano leitor aprendeu a soletrar a palavra c-a-n-c-r-o. Ante a inevitabilidade que é o morrer-se, resta a curiosidade mórbida do saber como, que os jornais satisfazem. Ninguém se pergunta porquê. Disso continuamos a ter medo, Muito medo mesmo.</div><br /><div align="justify"></div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9058484029732227985.post-88562073115170476482007-08-25T11:27:00.000+01:002007-08-25T11:36:28.375+01:00A união mística<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlEnb6gbkITmofvyb21-YQogeJPgwA1LGmQwJooR5sSzFVfN2VF30SW7FMj-cPP1b8PF3NfTE9fz34-V0qBJvk8zC6olnVL88VlEc-SVVCGgAjrm_sRIhgIpUGmtXiUbzX1p6IwSR50jo1/s1600-h/Madre_teresa_4.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5102585077817579730" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlEnb6gbkITmofvyb21-YQogeJPgwA1LGmQwJooR5sSzFVfN2VF30SW7FMj-cPP1b8PF3NfTE9fz34-V0qBJvk8zC6olnVL88VlEc-SVVCGgAjrm_sRIhgIpUGmtXiUbzX1p6IwSR50jo1/s320/Madre_teresa_4.jpg" border="0" /></a>«<em>Ho parlato come se il mio stesso fosse innamorato di Dio, di un amore tenero e intimo, se mi avessi sentito avresti detto ’Che ipocrita!’</em>». Consta de uma carta escrita por Madre Teresa de Calcutta, a religiosa de origem albanesa, em 1979, dando conta da angústia de ter deixado de sentir Deus.<br /><div align="justify">É esta união mística que dita os esponsais com Cristo. A perda da paixão torna-se então um segredo, doloroso. No seu caso, a mais pobre das pobres, silenciou-o na parte terminal da sua vida, obrigada por um voto, fiel a um encontro com os desesperados, aquele que Deus parecia ter abandonado.</div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9058484029732227985.post-79876005342798165482007-08-23T13:27:00.000+01:002007-08-23T13:41:48.876+01:00Amadeus e Schiller: ainda a vala comum<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibfK8RHzH4IETtgjmOu_9S7bIrECQ3Nhq9vZnf71gGD8zZCPpRAOCzoYeoyNSQHaCkWQJFHywxoknHHoCwWeHr9tgIK5EO1Ez6A8JGG29cE3hsMysXz_GPtus60PnnWakKEkdm8xrdF3pA/s1600-h/schiller1.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5101875042414139538" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibfK8RHzH4IETtgjmOu_9S7bIrECQ3Nhq9vZnf71gGD8zZCPpRAOCzoYeoyNSQHaCkWQJFHywxoknHHoCwWeHr9tgIK5EO1Ez6A8JGG29cE3hsMysXz_GPtus60PnnWakKEkdm8xrdF3pA/s320/schiller1.jpg" border="0" /></a> «<em>Mozart só começa a utilizar o famoso Amadeus (versão latinizada de Theophilus) a partir de 1774 numa carta dirigida à sua irmã (usava também Amadé)</em>».<br />Aprendi isto no blog «<a href="http://musicanasesferas.blogspot.com/2006/04/wolfgang-theophilus-mozart-e-o-paraso.html">Música nas Esferas</a>», do músico saxofonista Pedro Moreira, a que cheguei a partir do blog sobre alquimia da escritora <a href="http://simbologiaealquimia.blogspot.com/">Yvette Centeno</a>.<br />O mundo, de facto, só pode ser circular; o ponto de chegada é o da partida!<br />Retorno pois ao tema da vala comum, sobre o qual escrevi aqui, neste blog, umas linhas mais abaixo. Teria sido o destino de <a href="http://images.google.com/imgres?imgurl=http://www.dw-world.de/image/0,,1443426_1,00.jpg&imgrefurl=http://www.dw-world.de/popups/popup_printcontent/0,,1444423,00.html&amp;amp;h=142&w=192&sz=6&hl=pt-PT&start=25&sig2=GntcToV86uWiE0EB9LwqTw&amp;amp;um=1&tbnid=6reLDtUwYMbXTM:&tbnh=76&tbnw=103&ei=7H7NRs3VOZGw0wSVmIQi&prev=/images%3Fq%3D%2522vala%2Bcomum%2522%26start%3D18%26ndsp%3D18%26svnum%3D10%26um%3D1%26hl%3Dpt-PT%26rls%3DSNYG,SNYG:2004-50,SNYG:en%26sa%3DN">Friedrich Schiller</a>? Talvez!José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9058484029732227985.post-15888866885763629322007-08-08T17:48:00.000+01:002007-08-08T17:53:58.506+01:00A lassidão de arrancar raízes<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMq2MUaVMlWLG2rDdgccb0TPxFSqp38EEgXpU8cacTmmMt70oKnGGDDRY25FWVCISJwW8ec4XWxzchxo2VPXtVG3wCONTv_gj5uwFLNT0bcQeEP_U38m4TUvlfjklG2zdK82eqWdwQ_OiE/s1600-h/jgomesf2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5096373222510562370" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMq2MUaVMlWLG2rDdgccb0TPxFSqp38EEgXpU8cacTmmMt70oKnGGDDRY25FWVCISJwW8ec4XWxzchxo2VPXtVG3wCONTv_gj5uwFLNT0bcQeEP_U38m4TUvlfjklG2zdK82eqWdwQ_OiE/s320/jgomesf2.jpg" border="0" /></a>Uma mão amiga fez-me chegar poemas do José Gomes Ferreira. Um deles é precisamente sobre a arte de saber morrer com aquela mansidão alva de quem se vai de consciência tranquila: «<em>Devia morrer-se de outra maneira. Transformarmo-nos em fumo, por exemplo. Ou em nuvens. Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos os amigos mais íntimos com um cartão de convite para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje às 9 horas. Traje de passeio". E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos assistir a despedida. Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio. "Adeus! Adeus!" E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento, numa lassidão de arrancar raízes... (primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... ) a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se em fumo... tão leve... tão sutil... tão pòlen... como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de outono ainda tocada por um vento de lábios azuis...».</em></div><div align="justify">É um poema. Sai assim, «em linha recta», porque ao copiá-lo desalinhei-o todo. Fica bem. Parece prosa, sendo o mais poético da poesia.</div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9058484029732227985.post-39323859812243968642007-07-29T17:57:00.000+01:002007-07-29T18:48:40.341+01:00A vala comum<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfwoOIEzExcfoplr3mvHPbLGq9x6sGoRsBKDq9Q784JGTwcot6AvCxqXQ44QsOzpKgIWEm6T-g1zJHGIdmn7qZWh7l6TkCkKvA1xs6Wo8HzfZnAWyth-DAb4GmBdCM3LSNQ0HoRGzzyA8j/s1600-h/mozart_requiem.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5092677188403989410" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfwoOIEzExcfoplr3mvHPbLGq9x6sGoRsBKDq9Q784JGTwcot6AvCxqXQ44QsOzpKgIWEm6T-g1zJHGIdmn7qZWh7l6TkCkKvA1xs6Wo8HzfZnAWyth-DAb4GmBdCM3LSNQ0HoRGzzyA8j/s320/mozart_requiem.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify">Milos Forman com o o seu «Amadeus» trouxe à morte de Wolfgang Amadeus Mozart uma dimensão trágica, envolvendo uma disputa mortal com o rival compositor Antonio Salieri.</div><br /><div align="justify">Baptizado, segundo o rito cristão, como Johannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus Mozart, o compositor austríaco extingue-se, esgotado, aos trinta e cinco ano de idade.</div><br /><div align="justify">Inumado num dia de temporal, numa situação de miséria, o seu corpo foi jogado para a vala comum, a dos indigentes e abandonados. Reza a lenda que teve por companhia a solitária presença de um cão.</div><br /><div align="justify">A morte de Mozart é talvez o facto que traz com maior expressão para a dimesão pública universal a ideia de um lugar de entrerramento colectivo e não individualizado a marcar a diferença entre os endinheirados e os mendigos. </div><br /><div align="justify">Ora em Lisboa, o artigo 16º do Regulamento dos Cemitérios da Câmara Municipal, constante do Edital n.º 60/84, <em>aprovado pela Deliberação n.º 139/AM/84, tomada em Sessão de 1984/09/13, publicada em Diário Municipal n.º 14479 de 1984/09/26, constante a fls. 1643, modificado pela Deliberação n.º 34/AM/90, publicada em Diário Municipal n.º 15863 de 1990/04/26, constante a fls. 766, em vigor desde 1990/04/27, e pela Deliberação n.º 315/AM/92, publicada em Diário Municipal n.º 16370 de 1992/05/08, constante a fls. 1056, em vigor desde 1992/05/11 e ainda pela Deliberação n.º 39/AM/2000, publicada em Boletim Municipal n.º 328 de 2000/06/01, constante a fls. 945 a 946, em vigor desde 2000/06/02</em> reza que «não são permitidos enterramentos de corpos em vala comum».</div><br /><div align="justify">Ou seja, ante tal acervo normativo, se o autor da «Flauta Mágica» tivesse morrido em Lisboa, e a História Universal insistisse em que um tal génio tivesse que sofrer a ingratidão de nem ao menos uma campa raza e individual merecer, o corpo ficaria à chuva, à espera que os burocratas, os cangalheiros, os coveiros e os gato-pingados se entendessem com o legislador, para que no fim, folheadas as deliberações, vistos os editais, se concluísse que vala comum é que não. E o autor do incompleto «Requiem», quando finalmente baixado à cova já nem o cão teria por companheiro, cansado o bicho de tanta espera e tanta legislação.</div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9058484029732227985.post-34150341705428555592007-07-29T02:16:00.000+01:002007-07-29T11:15:56.515+01:00Juntar os sobrevivos<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPqP0d8D3MEZ4c2u3BoUCvwvNwv6ir1kFO1f1O_qIHSTJJ8xBe6E_BJHufIGshs6wAZwXHM2EUYNfVj6K-w72sbwIxiwmGaYhW5rQeDoGcnGNdYEqSNjOzJNuzof0ndg33ima7pgA-sB0n/s1600-h/wotton-death.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5092427225602329458" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPqP0d8D3MEZ4c2u3BoUCvwvNwv6ir1kFO1f1O_qIHSTJJ8xBe6E_BJHufIGshs6wAZwXHM2EUYNfVj6K-w72sbwIxiwmGaYhW5rQeDoGcnGNdYEqSNjOzJNuzof0ndg33ima7pgA-sB0n/s320/wotton-death.jpg" border="0" /></a>O tema surgiu outro dia numa conversa ocasional: o preço a que estão os terrenos para sepulturas! Depois foi alguém a falar no Eça de Queirós ter estado num jazigo emprestado durante uns tempos. De repente vem-me ao conhecimento que a Livraria Petrony havia editado uma obra sobre Direito Mortuário que trata, entre outros assuntos, os seguintes: remoção, transporte, inumação, exumação, transladação e cremação de cadáveres, agências funerárias, cemitérios, colheita de órgãos e tecidos, princípios de verificação da morte, colheita e transplante de órgãos e tecidos de origem humana, certificação de morte cerebral, registo nacional de não dadores, requisitos técnicos aplicáveis à dádiva, colheita e análise de tecidos e células de origem humana, dissecação lícita de cadáveres e extracção de peças, tecidos ou órgãos para fins de ensino e de investigação científica, dissecação de cadáveres e extracção de peças, tecidos ou órgãos.<br /><div align="justify">Enfim com tanto assunto surpreendi-me ao ler um livro do Wenceslau de Moraes sobre o culto dos mortos e a ter desoberto que hoje é proibida a vala comum, na qual Mozart foi enterrado, tendo no cortejo fúnebre por companhia um solitário cão.</div><br /><div align="justify">Tudo visto, eis a razão que dita esta blog: ir juntando aqui o que ainda está vivo àcerca do que já morreu.</div></div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9058484029732227985.post-86195054055784374342007-07-29T01:39:00.000+01:002007-07-29T02:36:33.890+01:00Saudemos, pois!<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdYwQPAvWtYXQFMzSAbvISAEMZ_2xkXdPhdyFhQBFSXjS01zSxKpiQYvO5duR_g9JtiOlT4Nvc-QxHRZhUG9PBltgLm0Pa71HvKKXyJzEL5ybisYwqkcdKFAQMdDp2z3tcdMVd1YkdzQc7/s1600-h/klimt-death-and-life.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5092426667256580962" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdYwQPAvWtYXQFMzSAbvISAEMZ_2xkXdPhdyFhQBFSXjS01zSxKpiQYvO5duR_g9JtiOlT4Nvc-QxHRZhUG9PBltgLm0Pa71HvKKXyJzEL5ybisYwqkcdKFAQMdDp2z3tcdMVd1YkdzQc7/s320/klimt-death-and-life.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify">Inaugura-se um blog dedicado a um tema natural que é encarado como estranho: a morte.</div><br /><div align="justify">Tão natural como nascer, morrer é uma forma de permitir à Natureza a criação de novas formas de vida. Estar morto é, por isso, um meio apenas de possibilitar essa reciclagem do ser sem a qual tudo seria eterna e monotonamente igual.</div><br /><div align="justify">Saudemos, pois, com a alegria, este blog, mortos de riso!</div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.com