16/09/2007

Imitação da felicidade

«Gostava intensamente de viver», diz Urbano Tavares Rodrigues, numa entrevista em que, tranquilo e pacificado, assume que tem «um tempo de vida muito limitado». 83 anos de idade, casado com uma mulher 40 anos mais nova do que ele, um bébé de poucos meses, vê agora serem publicadas as suas «Obras Completas», em dez volumes. Tem um livro ainda em preparação.
Tenho ali o primeiro volume, não sei quando o conseguirei ler. Prefacia-o Eugénio Lisboa, que da sua escrita lhe sublinha a clareza. Seguramente na vida, seguramente ante o acto de morrer, sem mistério: «tenho uma grande problema de coração. Não tenho já a aurícula esquerda porque está morta. Vivo de circulação artificial. O bombear do sangue faz-se pela aurícula direita e eu muito fácilmente entro em taquicardia (...) Não sei quando será, mas no meu caso é para breve». Falava da morte, assim, serenamente. Um dos seus livros chama-se «Imitação da Felicidade».