26/08/2007

O como e o porquê


Antigamente quando alguém morria com um cancro os jornais diziam que falecera após «doença prolongada». A palavra queimava os lábios, os Homem evitava-a, como se o seu vocativo fosse em si mesmo um perigo, ou como se o morrer-se dela uma vergonha. Hoje leio no «Jornal de Notícias» que Eduardo Prado Coelho morreu «na sequência de um cancro». Leio ainda que «sofria de uma doença que não lhe permitiu prolongar a vida». O ser humano leitor aprendeu a soletrar a palavra c-a-n-c-r-o. Ante a inevitabilidade que é o morrer-se, resta a curiosidade mórbida do saber como, que os jornais satisfazem. Ninguém se pergunta porquê. Disso continuamos a ter medo, Muito medo mesmo.